Durante esses quase 47 anos nesse corpo, eu aprendi a ignorar o medo, a esconder o medo, a disfarçar o medo, mas nunca havia me ocorrido a possibilidade de aceitá-lo. E parece tão óbvio agora que estou aqui colocando essas palavras no papel. Aceitar o medo. Como poderia ser tão simples?
Não sei como foi por aí, mas do lado de cá, eu aprendi que errar não era uma opção, nada além da perfeição seria aceitável e, seja lá o que for que esteja sentindo, não compartilhe porque ninguém está muito interessado em saber.
Foi assim que eu me tornei muito experiente em fazer de conta que eu era forte, feliz e capaz de dar conta de tudo. Até quebrar.
Ano passado, mais ou menos nessa época, eu quebrei. Obviamente estava quebrada, partida e remendada desde que me entendo por gente, mas dessa vez eu joguei a toalha. Desisti de catar os caquinhos e tentar colar mais uma vez. Desisti de ignorar, esconder e disfarçar não só o medo, mas a dor, o choro, a tristeza, a falta de sentido, a solidão e tudo mais que estava represado por detrás da máscara que eu estava acostumada a vestir.
Foram meses deixando toda água sair em lágrimas que pareciam não ter fim e que deixavam todos ao meu redor desconfortáveis, preocupados, sentindo-se impotentes e querendo desesperadamente me consertar. Mas o estrago era maior do que eles imaginavam e eu não estava mais disposta a guardar minha dor longe da vista para que todos ficassem confortáveis.
Aprendi a sentir tudo sem me apegar, apenas deixando as emoções seguirem seu curso. Fui atravessada por águas que pareciam não ter fim e percebi que a casca que eu tentei por tanto tempo sustentar com uma armadura, estava apertada e pequena demais.
Abandonar a casca me deixou profundamente vulnerável, exposta e com medo.
Eu escolhi não ignorar, nem fugir, não guardar e muito menos disfarçar o que sinto. Por isso estou aqui, contando essa história. Aprendi a ir até o fundo de si mesma e voltar. E é verdade: tem uma poeirinha de estrela que nos guia e o que encontramos é um grande tesouro.
Esse sempre foi o meu grande sonho e maior desejo. Ser capaz de guiar mulheres em suas buscas. Traçar o mapa, apontar o caminho, caminhar junto e garatir que elas podem ir até o fundo em suas buscas sem medo porque vou trazê-las de volta.
Prontas para virem comigo nessa Travessia?